Colecionar é Gestar Percepções

Nos últimos anos, o colecionismo passou do entendimento de um gesto individual — guiado pelo gosto ou pelo status — para uma atitude de participação ativa na cultura contemporânea. O colecionador de hoje atua como um curador de sentido, construindo narrativas que ajudam a compreender o presente. Ele não acumula objetos: articula discursos, conecta contextos e produz memória coletiva.
Em recente participação no excelente Seminário sobre o Mercado de Arte, realizado em São Paulo, o colecionismo foi tema de mesa-redonda. Observa-se que o número de instituições formadas a partir de coleções privadas vem crescendo. Isso impacta o olhar de curadores e agentes da arte que passam a também direcionar seus olhares para essas escolhas e seus desdobramentos. Quem gesta a narrativa consegue conduzir percepções.
Com a profissionalização do mercado em pauta e a complexidade dos acervos, a gestão de coleções torna-se uma dimensão estratégica. A coleção, entendida como um ativo cultural e financeiro, requer planejamento patrimonial e sucessório: a gestão permite organizar heranças, doações e até mesmo a criação de estruturas como Endowments que assegurem a continuidade do legado. Destinar isso é uma organização profissional.
Ao mesmo tempo, a gestão atua como uma curadoria contínua, mantendo coerência entre as aquisições e articulando um discurso consistente — quase como uma exposição permanente em evolução.
Em última instância, a gestão é o que transforma um conjunto de obras em um legado: uma narrativa viva que atravessa gerações e preserva, na arte, a visão de quem a construiu. Porque na arte de se relacionar, dominar a narrativa faz parte da estratégia.
